segunda-feira, 13 de abril de 2015

Adeus, Zé Gotinha!




Você se lembra do Zé Gotinha?

Se não, dificilmente você o verá um dia.

Se sim, pode ir dizendo adeus para esse personagem tão tradicional das campanhas de vacinação contra a Poliomelite (paralisia infantil), além de servir à conscientização de pais e crianças para prevenção de outras doenças.


O Zé Gotinha é um personagem que foi criado em 1986, como forma de incentivar as crianças a tomarem a gotinha (vacina oral) que combatia a poliomelite. 


A Vacina oral dessa doença será, em breve, substituída pela vacina injetável. Isso por indicação da OMS, que quer abolir radicalmente a rara chance de uma criança poder contrair a doença ao tomar a vacina oral, já que essa é constituída pelo vírus atenuado.

Com o vírus vivo, embora de forma atenuada, a gotinha pode estimular e sensibilizar o sistema imunológico de todo o trato digestivo e de todo o organismo da criança, mas, dependendo do estado imunológico no momento de tomar a vacina, o vírus atenuado pode vencer o sistema imunológico e, assim, chegar ao sistema nervoso, provocando os efeitos da doença.

Bem, para entender melhor o motivo da despedida do nosso querido Zé Gotinha, vamos lembrar exatamente as diferenças entre os dois tipos de vacina em questão: vacina oral e vacina injetável.

Só doenças contraídas pela ingestão de água e de alimentos contaminados têm vacina oral. É o caso do rotavírus e do vírus da pólio. Assim, a gotinha faz o mesmo trajeto do vírus. "Além de estimular o organismo a produzir anticorpos*, elas oferecem proteção às áreas mais sensíveis, como boca, estômago e intestino", segundo o secretário de Segurança em Saúde do Ministério da Saúde. Já contra doenças transmitidas pelo ar - como tuberculose, difteria, coqueluche, sarampo e caxumba -, só resta a vacina injetável.

A diferença entre vacina oral e injetável não termina na aplicação. A oral é feita com vírus atenuados. Isso significa que o agente infeccioso é processado em laboratório e perde seu poder nocivo. Uma vez no corpo, ele se reproduz e provoca a resposta imunológica do organismo da mesma forma como o vírus que causaria a doença. Já a vacina injetável pode usar o agente infeccioso inativado. Ou seja, ele está morto, incapaz de se reproduzir dentro de nós (ou seja, se fosse ingerido em vez de injetado, iria embora nas fezes). Isso elimina o risco já ínfimo de se desenvolver a doença, que é de um caso para 800 mil nas vacinas de via oral. 

*Anticorpos, ou imunoglobulinas, são proteínas sintetizadas pelos linfócitos B que são responsáveis por identificar, neutralizar e marcar corpos estranhos. Cada anticorpo dispõe de dois sítios, chamados de parátopos, que se ligam a uma parte especifica do antígeno, o epítopo. A especificidade que determina a afinidade entre anticorpos e antígenos é semelhante à existente na relação entre fechaduras e chaves. Essa interação sinaliza uma ação para que outros componentes do sistema imunológico destruam, por exemplo, microrganismos ou células tumorais.


Os planos são de ir substituindo, aos poucos, a gotinha Sabin, por vacina injetável que será chamada de "Salk". Mas muito em breve, estaremos dando aos nossos pequenos descendentes mais uma vacina injetável, que será injetada com outros 6 restos mortais de vírus, constituindo a vacina Heptavalente, que protege contra Difteria, Tétano, Coqueluche, Meningite, Hepatite B, Meningocócica C e a Poliomelite. Esse fato, embora possa ser criticado por ter que causar dor à criança (no lugar da "gotinha"), na verdade diminui muito mais a quantidade de vacinas injetáveis que ela tomaria na fase infantil, por ser mais completa.

Bom, então a despedida fica aí no vídeo! Nunca vamos esquecer os anos de prevenção do Zé Gotinha :')



Fontes:
  • RECEPTA BIOPHARMA. Anticorpos Monoclonais. 2012. Disponível em: <http://www.refisa.com.br/noticias/por-que-o-iodo-e-tao-importante>. Acesso em: 10 abr. 2015
  • CARPEGIANI, Fernanda. Vacinação: Ministério da Saúde anuncia o fim do Zé Gotinha. 2011. Revista Crescer. Disponível em: <http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI260150-15346,00.html>. Acesso em: 10 abr. 2015..
  • BERNARDO, André. Por que tomamos vacina injetável se existe a oral? 2012. Revista Guia do Estudante. Disponível em: <http://super.abril.com.br/saude/tomamos-vacina-injetavel-se-existe-oral-703977.shtml>. Acesso em: 10 abr. 2015.
  • BRASIL. Blog da Saúde. Ministério da Saúde. Dia “D” | Começa hoje a campanha de vacinação contra poliomielite e sarampo. 2014. Disponível em: <http://www.blog.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=34679&catid=570&Itemid=101>. Acesso em: 10 abr. 2015.

7 comentários:

  1. Gostei muito da postagem, saudades do Zé Gotinha…A diferença entre os dois tipos de vacina é bem interessante e vai além. A Sabin apresenta vantagem por ter uma facilidade de administração e por permitir a imunização dos contactantes. Porém, ela possui uma pequena probabilidade de causar a poliomelite, induzida por mutação dos próprios vírus atenuados, sendo o risco maior em pessoas com imunodeficiência e em contactantes desses. A poliomelite vacinal tem evolução idêntica a “selvagem”, podendo causar paralisia flácida (permanente ou transitória), ou, eventualmente, evoluir para o óbito. A Salk é a única vacina utilizada nos Estados Unidos desde 2000, sendo fortemente recomendada nos casos já citado e para adultos, nunca vacinados, que forem para áreas de riscos, recém-nascidos internados em uma unidade neonatal na idade de vacinação, crianças filhas de mães HIV-positivo antes da definição diagnóstica, pessoas submetidas a transplante de medula óssea ou de órgãos sólidos, entre outros casos.
    Estou no aguardo pela próxima postagem ;)

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  2. NÃÃÃÃÃO!!!! Zé Gotinha, não se vá!!!! Esse carinha foi um ícone para praticamente todas as crianças. É um exemplo de como a mídia pode trabalhar em benefício das populações. Eu mesmo já fui muito incentivado pelas propagandas na TV e mesmo pela chance de poder vê-lo e abraçá-lo. É um exemplo de como a Educação em Saúde pode ter um efeito gigante. A poliomielite é considerada erradicada do Brasil dede 1990, e esse carinha teve sua contribuição! Obrigado, Zé Gotinha!

    Entretanto, o avanço das técnicas permite agora, usar a vacina (que já era bastante segura) de forma ainda mais eficaz, com riscos reduzidos, além de associ-ala a outras, reduzindo as idas às UBS. Como a tempo, hoje em dia, é uma desculpa para muitas mães e muitos pais negligenciarem a vacinação de seus rebentos, os benefícios são mesmo grandes na nova vacina heptavalente.

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  3. Gostamos muito do post! Vários estudos confirmam o que foi abordado por vocês. Estima-se que, após a primeira dose da vacina trivalente oral contra a poliomielite (VOP), o risco de paralisia associada aos vírus vacinais seja de um para 750.000 e, após as doses subsequentes, um para cada 5 milhões. Pessoas que apresentam comprometimento da resposta imune, apresentam risco mais de 60 vezes superior ao das crianças previamente saudáveis; entretanto, apenas 24% dos casos de paralisia associada aos vírus vacinais identificados nos Estados Unidos, por exemplo, foram confirmados em imunocomprometidos. Por este motivo, os Estados Unidos adotaram, em 1997, o esquema sequencial, com duas doses da vacina de vírus inativados (VIP) seguidas pela VOP e, a partir do ano 2000, apenas a VIP. Embora o risco de paralisia associada aos vírus vacinais seja bastante baixo, atualmente se reconhece a capacidade de as cepas vacinais sofrerem mutações, dando origem aos vírus derivados dos vírus vacinais, que também podem causar paralisia em pessoas recentemente vacinadas (quatro a 75 dias) ou que tiveram contato recente com pessoas vacinadas (quatro a 80 dias).
    Valeu, galera! Aguardando o próximo post...

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  4. Grupo L:
    Ótima postagem!!! muito triste a ida do Zé gotinha... :( contribuiu muito para imunização de inúmeras crianças, inclusive a minha! hehe Maaaas, tudo tem seu lado positivo né? Então, que bom que os pequenos agora são vacinados de forma mais segura!
    A poliomielite se manifesta de várias formas diferentes, desde infecções inaparentes com quadro febril inespecífico, até formas paralíticas ou fatais. Era uma doença muito frequente até as décadas de 70-80 e milhares de pessoas morreram ou ficaram com sequelas devido à doença em todo mundo. Em 1989 o Brasil foi declarado livre da poliomielite pela OMS, o mesmo ocorrendo em muitos outros países. Atualmente ainda existe em alguns países da África, o que justifica mantermos a atenção quanto à imunização permanente das crianças, pois através de turistas vindos destes países e através das viagens internacionais podemos adoecer caso não estejamos vacinados. É importante ressaltar também que, embora as vacinas sejam muito importantes na prevenção de doenças e represente uma das maiores conquistas em saúde pública no mundo, ainda há muitas pessoas que se recusam a tomá-las. Logo, é de fundamental importância a disseminação de campanhas de conscientização e esclarecimento, como a do querido Zé gotinha!
    Até a próxima! ;)

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  5. GRUPO M
    As campanhas publicitárias, de fato, tem grande importância quando se trata de vacinação infantil. Geralmente, são feitas propagandas direcionadas ao público infantil, com uma linguagem de fácil compreensão, acompanhadas de músicas que encantam/envolvem os pequeninos e que não saem da mente das pessoas, agindo como um lembrete. Sou a prova viva disso, sabia cantar todas as musiquinhas e sempre dizia: “Mãe, ta na hora de tomar a vacina da gotinha” hahahaha
    Fazendo um paralelo, a poliomielite é um problema de saúde pública, pois ela pode infectar crianças e adultos por via oral-fecal. A falta de saneamento básico e de medidas adequadas de higiene é a principal causa de transmissão do vírus causador da pólio. A má qualidade da água utilizada para consumo e alimentos preparados sem os cuidados de higiene facilitam a proliferação dos diferentes tipos de poliovírus. O desenvolvimento de hábitos saudáveis de higiene, como lavar as mãos, beber água tratada e verificar os utensílios de mesa e cozinha antes de usa-los são medidas que auxiliam na prevenção da doença.
    Referências:
    http://drauziovarella.com.br

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  6. Muito boa a abordagem. E deu pra ver aqui que o pessoal realmente gostava muito do Zé Gotinha! Mas achei bem interessante o novo procedimento, se torna realmente muito importante ações que diminuam as chances de reações adversas a vacina, principalmente quando nos USA se começa a voltar a ter novos surtos de doença supostas controladas devido a ação dos chamados "antivaxxers", basicamente grupos de pessoas que são contrários as vacinações pelos mais diversos motivos, grupos esses que costumam utilizar os raros casos de reações adversas e usar para defender que as pessoas não vacinem seus filhos.
    Aqui no Brasil, parte do movimento liberal anti-estado também são contrários as vacinas ou, mais precisamente, a obrigatoriedade dela. Desconsiderando assim o imenso sucesso epidemiológica conseguidos com as campanhas de vacinação, como trazido em um comentário anterior, estando o Brasil livre da poli por tais campanhas.

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  7. Grupo D
    Vai deixar saudades... Como foi dito no post as vacinas da poliomielite são de dois tipos: vacina constituída de vírus inativados e vacina de vírus vivos atenuados.
    A vacina produzida com vírus inativados, também denominada Sabin em homenagem a Albert Sabin, contém três tipos de poliovírus: tipo 1 (Mahoney), tipo 2 (MEF-1) e tipo 3 (Saukett). É a vacina utilizada no Brasil, produzida a partir de três cepas de vírus denominadas 1, 2 e 3. É constituída de 106 unidades de vírus do tipo 1, 105 do tipo 2 e 600.000 do tipo 3, por dose. É de utilização oral e a vacinação básica consiste na aplicação de três doses, a partir dos dois meses de idade, com intervalo de dois meses entre as doses (2, 4 e 6 meses). O reforço é realizado com 15 meses de idade após a vacinação básica.
    Já a vacina inativada induz a produção de anticorpos da classe IgG de maneira satisfatória, mas quase não dá origem a formação de IgA secretora, ao contrário da vacina oral. Nesse caso não há propagação do vírus vacinal na comunidade, não ocorrendo casos de pólio paralítica por reversão do vírus vacinal selvagem. Esta vacina também é denominada tipo Salk em homenagem à Jonas Salk, seu desenvolvedor.
    Zé Gotinha sempre será um simbolo de politica de saúde que deu certo!!!

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