Você se lembra do Zé Gotinha?
Se não, dificilmente você o verá um dia.
Se sim, pode ir dizendo adeus para esse personagem tão tradicional das campanhas de vacinação contra a Poliomelite (paralisia infantil), além de servir à conscientização de pais e crianças para prevenção de outras doenças.
O Zé Gotinha é um personagem que foi criado em 1986, como forma de incentivar as crianças a tomarem a gotinha (vacina oral) que combatia a poliomelite.
A Vacina oral dessa doença será, em breve, substituída pela vacina injetável. Isso por indicação da OMS, que quer abolir radicalmente a rara chance de uma criança poder contrair a doença ao tomar a vacina oral, já que essa é constituída pelo vírus atenuado.
Com o vírus vivo, embora de forma atenuada, a gotinha pode estimular e sensibilizar o sistema imunológico de todo o trato digestivo e de todo o organismo da criança, mas, dependendo do estado imunológico no momento de tomar a vacina, o vírus atenuado pode vencer o sistema imunológico e, assim, chegar ao sistema nervoso, provocando os efeitos da doença.
Bem, para entender melhor o motivo da despedida do nosso querido Zé Gotinha, vamos lembrar exatamente as diferenças entre os dois tipos de vacina em questão: vacina oral e vacina injetável.
Só doenças contraídas pela ingestão de água e de alimentos contaminados têm vacina oral. É o caso do rotavírus e do vírus da pólio. Assim, a gotinha faz o mesmo trajeto do vírus. "Além de estimular o organismo a produzir anticorpos*, elas oferecem proteção às áreas mais sensíveis, como boca, estômago e intestino", segundo o secretário de Segurança em Saúde do Ministério da Saúde. Já contra doenças transmitidas pelo ar - como tuberculose, difteria, coqueluche, sarampo e caxumba -, só resta a vacina injetável.
A diferença entre vacina oral e injetável não termina na aplicação. A oral é feita com vírus atenuados. Isso significa que o agente infeccioso é processado em laboratório e perde seu poder nocivo. Uma vez no corpo, ele se reproduz e provoca a resposta imunológica do organismo da mesma forma como o vírus que causaria a doença. Já a vacina injetável pode usar o agente infeccioso inativado. Ou seja, ele está morto, incapaz de se reproduzir dentro de nós (ou seja, se fosse ingerido em vez de injetado, iria embora nas fezes). Isso elimina o risco já ínfimo de se desenvolver a doença, que é de um caso para 800 mil nas vacinas de via oral.
*Anticorpos, ou imunoglobulinas, são proteínas sintetizadas pelos linfócitos B que são responsáveis por identificar, neutralizar e marcar corpos estranhos. Cada anticorpo dispõe de dois sítios, chamados de parátopos, que se ligam a uma parte especifica do antígeno, o epítopo. A especificidade que determina a afinidade entre anticorpos e antígenos é semelhante à existente na relação entre fechaduras e chaves. Essa interação sinaliza uma ação para que outros componentes do sistema imunológico destruam, por exemplo, microrganismos ou células tumorais.
Os planos são de ir substituindo, aos poucos, a gotinha Sabin, por vacina injetável que será chamada de "Salk". Mas muito em breve, estaremos dando aos nossos pequenos descendentes mais uma vacina injetável, que será injetada com outros 6 restos mortais de vírus, constituindo a vacina Heptavalente, que protege contra Difteria, Tétano, Coqueluche, Meningite, Hepatite B, Meningocócica C e a Poliomelite. Esse fato, embora possa ser criticado por ter que causar dor à criança (no lugar da "gotinha"), na verdade diminui muito mais a quantidade de vacinas injetáveis que ela tomaria na fase infantil, por ser mais completa.
Bom, então a despedida fica aí no vídeo! Nunca vamos esquecer os anos de prevenção do Zé Gotinha :')
- RECEPTA BIOPHARMA. Anticorpos Monoclonais. 2012. Disponível em: <http://www.refisa.com.br/noticias/por-que-o-iodo-e-tao-importante>. Acesso em: 10 abr. 2015
- CARPEGIANI, Fernanda. Vacinação: Ministério da Saúde anuncia o fim do Zé Gotinha. 2011. Revista Crescer. Disponível em: <http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI260150-15346,00.html>. Acesso em: 10 abr. 2015..
- BERNARDO, André. Por que tomamos vacina injetável se existe a oral? 2012. Revista Guia do Estudante. Disponível em: <http://super.abril.com.br/saude/tomamos-vacina-injetavel-se-existe-oral-703977.shtml>. Acesso em: 10 abr. 2015.
- BRASIL. Blog da Saúde. Ministério da Saúde. Dia “D” | Começa hoje a campanha de vacinação contra poliomielite e sarampo. 2014. Disponível em: <http://www.blog.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=34679&catid=570&Itemid=101>. Acesso em: 10 abr. 2015.